Velocidade 50% acima do limite agravou acidente de ônibus com doze mortos na MG-223, diz perito
15/05/2025
(Foto: Reprodução) Polícia Civil indiciou motorista do ônibus do Grupo Guanabara por 12 homicídios e 46 tentativas de homicídio qualificados. Coletiva divulgou detalhes das investigações nesta quinta-feira (15). Motorista é indiciado por tragédia com ônibus na MG-223 que matou 12 pessoas
A Polícia Civil de Minas Gerais apresentou detalhes das investigações sobre o grave acidente com o ônibus do Grupo Guanabara, ocorrido na MG-223, em Araguari. Durante a entrevista coletiva, nesta quinta-feira (15), a polícia informou que o ônibus seguia com velocidade 50% acima do limite no trecho, o que resultou na tragédia com 12 mortos e no indiciamento do motorista.
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O motorista de 58 anos foi indiciado por 12 homicídios e 46 tentativas de homicídio qualificados, por impossibilidade de defesa das vítimas, e vai responder em liberdade. O nome dele não foi divulgado pela polícia.
Segundo o perito Daniel Luiz de Souza, o ônibus trafegava a aproximadamente 96 km/h no momento do acidente, muito acima da velocidade permitida no trecho.
A curva do local conhecido como Trevo do Queixinho, onde o veículo tombou, é considerada acentuada e o excesso de velocidade foi determinante para que o motorista perdesse o controle da direção. Outro agravante, de acordo com o perito, foi a ausência de cinto de segurança.
“O ônibus chegou no trevo, havia uma curva para a direita e ele estava em velocidade acima da permitida, mais de 50%. Ao entrar no trevo, a curva era bastante acentuada, ele tomou para a esquerda. Após tombar, ele arrastou, atravessou a via que contornava o canteiro central e avançou para dentro do canteiro central por nove metros. Foi um acidente que se deu por conta do excesso de velocidade, o condutor desatento e passageiros sem o cinto”, explicou Daniel.
Ao g1, a Real Expresso - empresa que integra o Grupo Guanabara e responsável pelo ônibus - informou que continua colaborando integralmente com as autoridades na investigação do acidente, com total transparência e responsabilidade. Leia a nota na íntegra ao final da reportagem.
Vítimas foram arremessadas e esmagadas pelo ônibus
Após o tombamento, as janelas do lado esquerdo do veículo quebraram e alguns passageiros, sem o cinto, acabaram sendo arremessados para fora. O ônibus tombado então se arrastou e esmagou as vítimas.
“Todos os passageiros sem cinto foram arremessados para a grama e, na sequência, o ônibus veio e os esmagou nesse percurso de nove metros. Então, como a perícia constatou ali no local a presença de 10 óculos, nove corpos foram retirados debaixo do ônibus, sendo seis apenas depois que levantamos o ônibus”, disse o perito.
Depoimentos confirmaram que motorista tinha pressa para “tirar o atraso”
Inicialmente, a empresa Real Expresso informou que havia 54 pessoas no veículo, sendo 53 passageiros. Mas com a apuração da Polícia Civil ficou confirmado que haviam 58 pessoas, além do motorista.
De acordo com o delegado de Polícia Civil, Rodrigo Luiz Fiorindo Faria, a lista apresentada pela empresa tinha inconsistências e não listava alguns passageiros. Com o cruzamento de informações junto às unidades de saúde que receberam os feridos, foi possível totalizar o quantitativo.
Fiorindo ainda esclareceu que os depoimentos desses passageiros indicaram que o motorista demonstrava estar com pressa. Várias testemunhas relataram que ele pediu aos passageiros que colocassem os cintos, pois precisava “tirar o atraso da viagem”.
"As oitivas das vítimas sobreviventes denotam realmente situações de que o motorista, inclusive ele confirmando, que necessitaria estar em alta velocidade para tirar o tempo de atraso, o que é inadmissível por se tratar de um motorista profissional que tem que ser garantidor de vidas que são depositadas a ele e à empresa" , alegou.
Além disso, os dados de telemetria disponibilizados à polícia demonstrou que o motorista transitou, senão durante todo o trajeto, por boa parte dele, em alta velocidade.
A partir dessas provas, o delegado disse que foi descaracterizada a autuação por infração de trânsito e configurado o crime de homicídio e tentativa de homicídio qualificado, pelos quais o investigado foi indiciado por 58 vezes.
“O motorista, como é uma empresa de transporte de passageiros, ele está numa função de garantidor. Ele garante a segurança das pessoas e, com essa conduta determinada e declarada pelas vítimas ali, além dos outros elementos que constaram no inquérito policial, foi possível a descaracterização primeiro da culpa, para retirar esse enquadramento do Código de Trânsito Brasileiro e passar para o Código Penal, caracterizando o dolo”.
🔎 No Direito Penal, culpa ocorre quando alguém causa um resultado sem intenção, por imprudência, negligência ou imperícia. Em regra, essa situação seria tratada como homicídio culposo na direção de veículo automotor, conforme o artigo 302 do Código de Trânsito Brasileiro. Já o dolo é quando a pessoa assume o risco de causar o resultado, no caso, o acidente grave.
Sobre a eventual responsabilização da empresa de ônibus, o delegado informou que o inquérito foi enviado ao Ministério Público Federal (MPF), que deverá apresentar denúncia à Justiça.
Acidente na MG-223 deixou 12 passageiros mortos
O veículo da viação Real Expresso saiu de Anápolis (GO) por volta das 20h30 do dia 7 de abril com destino a São Paulo (SP), mas na madrugada do dia 8, o motorista perdeu o controle da direção em um trecho da rodovia conhecido por Trevo do Queixinho, saiu da pista e o ônibus tombou.
O g1 reuniu as principais informações sobre o que já se sabia sobre o acidente até a conclusão das investigações. Relembre abaixo:
Quem são as vítimas mortas no acidente?
O que se sabe sobre os feridos?
Qual foi a causa do acidente?
Qual é a empresa responsável pelo ônibus?
O ônibus estava regularizado?
O que diz a Real Expresso sobre o acidente?
O que diz a ANTT sobre o acidente?
Houve outros acidentes graves na MG-223?
Quem são as vítimas mortas no acidente?
Todas as 12 vítimas do acidente foram identificadas. Entre elas estão duas crianças de 2 e 6 anos, três homens entre 40 e 69 anos, além de três mulheres entre 53 e 62 anos.
Dez vítimas não resistiram aos ferimentos e morreram no local do acidente. Outras duas mulheres, levadas para o Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), morreram durante a internação. A 12ª vítima é Zenilde Santana Hamada, de 73 anos, cuja morte foi confirmada um mês após o acidente.
Veja a lista abaixo atualizada pelo g1.
Rogério Ribeiro de Queiroz - 41 anos - natural de Goiânia
Elhadi Ahmed Khalifa - 69 anos - estrangeiro (Líbia)
Kleyton Serra da Silva - 40 anos
Sueli Dias Pereira Fernandes - 56 anos
Suely Maria de Araújo - idade não informada
Francini Batista Rodrigues Marcondes - idade não informada
Nilda Helena de Paula - 53 anos
Laura Costa de Negreiros - 6 anos
Lorena Costa de Negreiros - 2 anos
Maria Catarina da Silva - 62 anos - morava em Ribeirão Preto
Zenilde Santana Hamada, 73 anos
Laura e Lorena Costa eram irmãs e viajam com a mãe e o filho mais novo da família, um bebê de 6 meses, para visitar a avó em São Paulo. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Araguari, a mulher e o bebê foram internados no Hospital Sagrada Família em Araguari e não corriam risco de morte.
A secretária de Saúde de Araguari, Thereza Griep, que também participou da coletiva da Polícia Civil nesta quinta-feira, informou que as equipes tiveram muita dificuldade na identificação porque alguns passageiros não constavam na lista de embarque repassada pela empresa.
O que se sabe sobre os feridos?
O Corpo de Bombeiros de Araguari informou que dos 36 feridos, 18 foram levados para hospitais. Os outros 18 tiveram ferimentos leves e recusaram atendimento.
Pelo menos 17 passageiros foram encaminhados para a UPA de Araguari. Outros cinco pacientes foram transferidos para o Hospital Sagrada Família.
Para o Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU) foram nove passageiros, com o quadro mais grave. Dentre eles, uma gestante que teve o braço amputado e ainda precisou ser submetida a uma cesariana para fazer o parto de emergência. A bebê nasceu com 1,4 kg e foi internada na UTI neonatal da unidade. Mãe e filha permanecem internadas.
O marido da gestante também estava no ônibus e dormia na hora do acidente. Ele acordou com os gritos de socorro da esposa quando o veículo tombou e se arrastou pela rodovia.
Maria Catarina da Silva, 62 anos, e Zenilde Santana também ficaram internadas no HC-UFU, mas não resistiram aos ferimentos.
Qual foi a causa do acidente?
Antes da conclusão do inquérito, já havia indícios sobre o ônibus estar em velocidade superior à permitida no trecho da MG-223, de 60 km/h. De acordo com a Polícia Militar Rodoviária (PMRv), passageiros relataram que o motorista dirigia em alta velocidade, quando tentou contornar o trevo e o ônibus tombou.
Um dos sobreviventes chegou a relatar que o veículo saiu com atraso de uma das paradas previstas, em Goiânia. Além disso, o motorista teria dito que "pisaria no acelerador" para compensar o tempo.
O condutor de 58 anos foi levado para a delegacia para prestar depoimento e, em seguida, liberado. Segundo a Polícia Civil, não havia elementos para a prisão em flagrante naquele momento. Além disso, o motorista ficou no local prestando socorro aos feridos.
Qual é a empresa responsável pelo ônibus?
O ônibus pertence à empresa de viação Real Expresso, do Grupo Guanabara.
O ônibus estava regularizado?
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) informou que o ônibus estava com a documentação e os cadastros regulares para o transporte interestadual de passageiros.
O que diz a Real Expresso sobre o acidente?
"A Real Expresso reafirma que continua colaborando integralmente com as autoridades na investigação do acidente, com total transparência e responsabilidade. Acreditamos no trabalho da Justiça e permanecemos à disposição para todos os esclarecimentos necessários.
Desde o início, a empresa vem prestando assistência completa às famílias das vítimas e aos sobreviventes, reforçando seu compromisso com o acolhimento e o cuidado.
Para a empresa a lista era aquela, se, no entanto, haviam passageiros não registados ou não pagantes aguardamos a apuração e com certeza iremos atuar para descobrir o responsável pela irregularidade.
Por fim, destacamos que a Real Expresso cumpre rigorosamente todas as normas de segurança exigidas para o transporte rodoviário de passageiros, investindo continuamente em tecnologia, manutenção preventiva e frota de última geração, sempre priorizando a segurança e a integridade de todos os seus clientes".
O que diz a ANTT sobre o acidente?
"A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) lamenta profundamente o acidente envolvendo um ônibus interestadual na MG-223, em Araguari (MG), nesta terça-feira (8/4), e expressa solidariedade aos familiares das vítimas.
A ANTT confirma que o veículo envolvido fazia o trajeto Anápolis(GO)/São Paulo(SP) e estava com a documentação e os cadastros regulares para o transporte interestadual de passageiros. O ônibus possuía Seguro de Responsabilidade Civil e Certificado de Segurança Veicular válidos, além de cronotacógrafo devidamente aferido e habilitado, em conformidade com a legislação vigente.
A Agência, em conjunto com outros órgãos, está acompanhando a situação. A ANTT instaurou processo administrativo para monitorar o caso e fornecerá todas as informações necessárias às autoridades de segurança pública para apoiar as investigações".
Ônibus tombou na MG-223 em Araguari em local conhecido por 'Trevo do Queixinho'
G1
Houve outros acidentes graves na MG-223?
A rodovia estadual MG-223 já foi palco de outros acidentes graves na região do Triângulo Mineiro. Em julho do ano passado, um tenente da PM morreu após o veículo capotar próximo a Tupaciguara.
Um mês depois, uma jovem de 28 anos morreu e outras sete pessoas ficaram feridas em uma batida frontal entre dois carros, entre as cidades de Estrela do Sul e Monte Carmelo.
Em 2021, um motociclista também morreu na rodovia após bater em um ônibus. Uma passageira ficou ferida no acidente. No ano seguinte, um motorista de 27 anos morreu depois de bater com um caminhão-tanque próximo a Araguari.
Entre os mortos estão duas crianças de 2 e 4 anos
Reprodução/TV Integração
Ônibus seguia de Goiás ao estado de São Paulo
Reprodução/TV Integração
Equipes dos Bombeiros, Samu e PM de cidades da região se mobilizaram no atendimento às vítimas
Corpo de Bombeiros/Divulgação
Motorista seguia de Anápolis a SP, quando perdeu o controle em trevo próximo à cidade de Araguari (MG)
PMRv/Divulgação
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