Do alecrim-do-campo à colmeia: descubra de onde vem o própolis que você usa contra gripes
01/07/2025
(Foto: Reprodução) Substância usada pelas abelhas para diversas funções também é produzida através de outras plantas e tem a capacidade de aumentar imunidade nas pessoas. Própolis verde da Canastra - produzida em Bambuí
Natucentro/Divulgação
Quando o frio chega, é comum ver mais pessoas recorrendo ao própolis para tentar dar um reforço no sistema imunológico e afastar gripes e resfriados. E não é por acaso. Essa substância produzida pelas abelhas é rica em compostos bioativos, como fenóis e flavonoides, que há séculos despertam o interesse de quem busca uma alternativa natural para cuidar da saúde.
A substância carrega até no nome seu papel protetor. A palavra “própolis” vem do grego “pro”, que significa “em defesa” ou “em favor de”, e “polis” quer dizer “cidade” — ou seja, o própolis é o “defensor da cidade”, no caso, da colmeia.
Mas afinal, o que é o própolis? E por que tanta gente confia nele para enfrentar o inverno? De forma resumida, o própolis é uma mistura complexa. Ele surge a partir de resinas vegetais coletadas por abelhas em ramos, folhas e brotos, misturadas com pólen, cera e secreções salivares.
As abelhas removem a resina com a mandíbula, moldam com as pernas e a armazenam em estruturas chamadas corbículas, uma espécie de “cestinha” localizada nas pernas
Jean Carvalho
Dentro da colmeia, o papel do própolis é essencial. “As abelhas utilizam o própolis para revestir a superfície interna da colmeia e até embalsamar pequenos animais que tenham morrido ali dentro e que não tenham sido retirados, garantindo um ambiente asséptico, longe de proliferações de vírus e bactérias”, explica a bióloga e botânica Carol Ferreira.
Além disso, as abelhas vedam aberturas indesejadas com própolis, mantendo a colmeia protegida de invasores e do frio.
Própolis verde é produzido a partir da planta vassourinha ou alecrim-do-campo (Baccharis dracunculifolia)
Helberth Peixoto
Com a queda das temperaturas, gripes e resfriados se tornam mais frequentes, e é aí que o própolis costuma entrar. Isso porque ele possui propriedades antifúngicas, antibacterianas e anti-inflamatórias, que ajudam a combater agentes infecciosos e a aliviar sintomas como inflamação das vias respiratórias.
Além disso, a composição é rica em fenóis, flavonoides, ácidos graxos, aminoácidos, vitaminas A, B1, B2, B6, C, E e minerais como manganês, cálcio e zinco. “Os estudos mostram que há um aumento no número de anticorpos e na atividade das células responsáveis pela resposta imunológica”, destaca Carol.
Própolis da abelha-canudo tem poder curativo
Divulgação / Embrapa
Os tipos de própolis
Atualmente existem 13 tipos de própolis no Brasil, mas quatro deles são mais conhecidos: o verde, o vermelho, o marrom e o preto (ou escuro).
Própolis verde: é produzido a partir da planta alecrim-do-campo, também chamada de vassourinha (Baccharis dracunculifolia). É muito usada na produção artesanal de vassouras, daí o nome “vassourinha”.
Própolis vermelho: é produzido a partir do rabo-de-bugio (Dalbergia ecastophyllum);
Própolis marrom: é produzido a partir de Hyptis divaricata;
Própolis preto ou escuro: produzido a partir da planta Jurema-preta (Mimosa tenuiflora).
Própolis vermelho é produzido a partir do rabo-de-bugio (Dalbergia ecastophyllum)
Jean Carvalho
De acordo com Carol Ferreira, o própolis verde, além de ser o mais estudado, possui o Artepelin C, composto que estimula o sistema imunológico e tem ação cicatrizante superior à do própolis vermelho.
“Já o própolis vermelho é famoso por sua maior atividade microbiana, o que faz dele um queridinho em soluções de defesa contra infecções”, explica.
“Ele é produzido a partir de uma árvore chamada rabo-de-bugio, muito comum nos manguezais do nordeste do Brasil e famosa por eliminar um líquido vermelho quando sofre algum ferimento no caule”, completa a botânica.
A pesquisadora destaca que não é possível determinar quais fatores vão influenciar a escolha das abelhas coletoras por determinada espécie de planta como fonte de resina, mas que provavelmente a atividade antimicrobiana da resina possa ter um peso importante nesta escolha.
Própolis verde da Canastra - produzida em Bambuí
Natucentro/Divulgação
A coleta é minuciosa: as abelhas removem a resina com a mandíbula, moldam com as pernas e a armazenam em estruturas chamadas corbículas, uma espécie de “cestinha” localizada nas pernas. Só então levam o material para a colmeia, onde misturam tudo com cera e saliva.
Depois que sai da colmeia, o própolis é raspado, filtrado para tirar impurezas (como fragmentos de cera e outros detritos) e deixado de molho em álcool — ou em água ou glicerina vegetal — para extrair os compostos bioativos da resina. Esse “banho” dura de uma a duas semanas, até virar o extrato que chega aos frascos das prateleiras.
Cuidados importantes
Nem todo mundo pode consumir própolis sem restrições. Carol alerta: “A contraindicação principal é para pessoas alérgicas a produtos apícolas. Além disso, crianças e pessoas que não podem ingerir álcool devem preferir extratos aquosos, em vez do extrato alcoólico”.
Com tanta oferta no mercado, é importante verificar a procedência. A bióloga recomenda: “Procure sempre produtos que tenham o selo do Serviço de Inspeção Federal (S.I.F) do Ministério da Agricultura ou registro na Anvisa”.
Extração do própolis vermelho: retirado com faca de inox, parece um 'chiclete'
Celso Tavares/G1
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